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Síndrome de Irlen – falta de evidência científica para uso de lentes ou filtros coloridos

julho 13, 2017 - Jorge

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Crianças e adolescentes com deficiência de leitura experimentam comprometimento significativo na aquisição de habilidades de leitura e ortografia. Dadas as consequências emocionais e acadêmicas para crianças com distúrbios de leitura persistente, as intervenções baseadas em evidências são criticamente necessárias.1

Muito tem sido divulgado, via internet e mídia televisiva leiga ou imprensa, recentemente em nosso país, sobre o tratamento da Síndrome de Irlen. Essa síndrome foi descrita pela psicóloga americana, Helen Irlen, em 1987 e enquadra indivíduos com dificuldade de adaptação ao contraste, como claro e escuro e distorção da percepção na leitura, como se texto e palavras estivessem caindo.

Apesar de toda a divulgação pela mídia, onde depoimentos de pacientes foram usados para difundir o tratamento, a literatura médica internacional conclui em vários artigos científicos de revisão, que o tratamento preconizado não apresenta evidência científica de eficácia, sendo, portanto, comparado a tratamento placebo.

O parecer do Conselho Federal de Medicina, em 2014, de acordo com pesquisa e estudo da literatura científica, conclui como placebo, o tratamento proposto para essa disfunção de leitura.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) desaconselha desde 2009, o uso das lentes e filtros coloridos para o tratamento das crianças com dificuldades de leitura.2

Em 2014, em declaração conjunta da Academia Americana de Pediatria (Seção sobre Oftalmologia, Conselho sobre Crianças com Deficiência), a Academia Americana de

Oftalmologia (AAO) e a Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica (AAPOS), afirmam que, muitos dos estudos que foram citados como prova da eficiência da lente Irlen, na verdade não foram conclusivos após análises mais profundas. Concluem que a evidência não suporta a eficácia de lentes tingidas e filtros tingidos nesses pacientes por causa da fragilidade na metodologia e estatística dos trabalhos realizados.

Essa entidades recomendam o seguinte:

1. As crianças que apresentam sinais de dificuldades de aprendizagem devem ser referidas no início do processo, para avaliações diagnósticas educacionais, psicológicas, neuropsicológicas e/ou médicas.

2. Crianças com dificuldades de aprendizagem devem receber apoio adequado e intervenções educacionais combinadas com tratamentos psicológicos e médicos, conforme necessário.

3. Crianças com deficiência de aprendizado suspeita ou diagnosticada, devem ser encaminhados para um oftalmologista com experiência no cuidado de crianças, onde a acuidade visual para longe e para perto deve ser testada. O exame oftalmológico completo deve ser realizado para afastar causas refracionais ou anatômicas que estejam influenciando na diminuição da capacidade visual, e, em consequência, dificultado a leitura e o processo de aprendizado.

Mais recentemente, em 2016, novo trabalho de revisão sistemática da literatura foi realizado, desta feita por Griffths e cols., avaliando a utilização dos filtros e lentes

coloridos, concorda com os trabalhos anteriores em que o tratamento é considerado placebo.4

A função da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) é difundir conhecimento e divulgar estudos científicos que comprovem condutas e tratamentos em benefício da saúde ocular das crianças em nosso país.

A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) está de acordo com o posicionamento do Conselho Federal de Medicina, da Academia Americana de Pediatria, Academia Americana de Oftalmologia, e da Academia Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, e declara que, devido a falta de evidência científica na literatura médica mundial relacionada ao benefício do uso de lentes e filtros para o tratamento da dificuldade de leitura, não recomenda o uso dos mesmos para esse fim.

1.Galuschka K e cols. Effetiveness of Treatment Approachesfor Children and Adolescents with Reading Disabilities: a Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. PLoS One, 2014; 9(2): e89900. doi:10.1371/journal.pone.0089900

2 . American Academy of Pediatrics, Section on Ophthalmology, Council on Children with Disabilities, American Academy of Ophthalmology, American .Strabismus, American Association of Certified Orthoptists. Learning Disabilities, Dyslexia, and Vision . Pediatrics. 2009; 124(2)

3. Joint Statement: Learning Disabilities, Dyslexia, and Vision – Reaffirmed 2014 . Guidelines AAO. July 2014, AAP, AAPOS, AACO and AAO Hoskins Center for Quality Eye Care

4.Griffths, PG et al. The effect of coloured overlays and lenses on reading: a systematic review of the literature
Ophthalmic Physiol Opt. 2016 Sep;36(5):519-44. doi: 10.1111/opo.12316.

Jorge

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